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O DJ mais em voga de momento é um Dreadlock consciencioso chamado Manley Buchanan, um antigo motorista de taxi, a que toda a gente chama Big Youth. Big Youth é o futuro do reggae, um som mais amplo, com mais guitarra baixo, uma bateria mais forte – na Jamaica é avant-garde. Big Youth é tão ouvido que lhe chamam o Gleaner humano (alusão a um jornal jamaicano, o Daily Gleaner), o que significa que, para um razoável número de jamaicanos, a única maneira de saber o que se passa no mundo é através da audição dos seus discos. Big Youth iniciou-se com uma canção sobre motos, Ace 90 Skank. Os seus discos singles sobre o combate final dos pesos pesados que se realizou em 1973, em Kingston, George Foreman e Foreman and Frazier, trouxeram-lhe um êxito bastante fácil, até porque o favorito jamaicano, Foreman, pôs Frazier K.O. (nocaute) sem dificuldades. House of Dreadlocks e Natty Cultural Dread estabeleceram Big Youth como o porta voz dos Rastas e até Bob Marley diz que Big Youth é o seu músico favorito. Durante a nossa estadia na Jamaica, o último disco de Big Youth, Hit the Road Jack (cujo refrão repete sem fim “What the world Needs Now” – O que o mundo precisa agora) era o número um em todos os hit-parades oficiais das discotecas, sendo também a única música de DJ a passar na rádio. Alguns adoram Big Youth, outros detestam-no. Ultimamente tem tentado alargar a sua experiência como DJ, gravando singles originais. Os primeiros números de venda são extremamente positivos e Big Youth está na crista da onda, sendo o mais extravagante e mais rebelde dos músicos de reggae de todos os tempos.
Big Youth vive num bairro pequeno-burguês de Kingston. O seu pátio está cheio de motos e Rastas que fumam e trocam a Boa Palavra. Pensando dar provas de inteligência e pontualidade à jamaicana, chegamos com uma hora de atraso ao encontro mas mais uma vez apercebemo-nos que calculamos mal. Big Youth só chegaria uma hora e meia mais tarde, ao pôr do sol. Durante todo esse tempo Rastas de feições duras entravam e saíam de moto. Era um dos seus quartéis-generais, tal como a casa de Bob Marley, só que os Dreads tinham aspecto mais jovem. Era uma outra geração. Big Youth chegou finalmente, exibindo os seus locks sobre o brilho dourado dos seus dentes, cobertos de coroas em forma de coração. Ele é novo e o seu bom-humor é comunicativo. Mandou-nos entrar para o seu escritório, para gravar a nossa conversa à luz duma lâmpada. Fotos de Hailé Sélassié nas paredes. Jornais de motos espalhados pelo chão. Fez-nos ouvir os demos de alguns singles: Ten Against One, Stand Up For Your Rights e Jim Screechee, que diz: “John Coltrane morreu na busca vã do Amor Supremo”. Depois mandou calar alguns Dreads barulhentos no pátio e começou a sua história.
- Eu nasci em Trench Town, no Jubilee Hospital. É lá que nasce a maior parte das crianças de Kingston. Direi, pois, que tive o privilégio de crescer em Trench Town e nos restantes ghettos. De qualquer modo, é uma só cidade. Eu era um grande apreciador de música, como aliás todas as pessoas com as quais eu cresci e que são aquelas que dizem sim à música. Não faltava a um baile e exercitava-me com o microfone sempre que podia. Cantava ou tagarelava; nos finais dos anos 60 chega um tipo chamado U Roy. E para mim, de qualquer modo, era uma fonte de inspiração. Adoro o que ele fazia e penso sempre que o posso igualar. Há um baile de que me recordo bem: tudo corre mal, a música não está ordenada, o bom DJ não aparece e eu obtenho o direito e privilégio de me exprimir e toda a gente passa uma boa noite. Pouco depois estava num estúdio para gravar uma canção: “Se tu vens de longe num automóvel ou autocarro, deverias fazer amor e não a guerra”. Desse disco, que não se vendeu quase nada, consegui vinte dólares. Na altura, nem sequer pensei que um dia mais tarde pudesse ter um pouco mais de sorte, mas de qualquer modo fiz outro single: Black Cinderela, a que chamavam Black Cindy. As minhas canções eram ótimas, e eu sabia-o, mas a sorte não estava do meu lado. Aqui, e você sabe-o, os artistas são vigarizados pelos produtores, todos eles sem exceção. Não há um cantor que esteja satisfeito com a maneira como o tratam. Bom, eu tinha feito Black Cindy e desejava ardentemente que o passassem na rádio. Fiz então um outro, Tell It Black, mas não foi com esse que o consegui. Mas no ghetto, onde eu vivia, as pessoas vinham às sessões e encorajavam-me; percebe o que eu quero dizer?
Então fiz mais um, When Revolution Come; era para Prince Buster. Foi o número um de todos os hit-parades, número um na JBCV, número um na RJR. Até esse dia, Prince Buster não me tinha pago um cêntimo sequer de direitos de autor. Encurralei-o contra a parede e então ele sacou uma arma. Se tu és Rasta ninguém te respeita. E ele diz que é muçulmano! Ras Clot...
O meu grande sucesso foi Ace Go Skank. Este também era sobre motos. “Se tu aceleras como um raio, vais-te espetar como um trovão...”. depois fiz Screaming Target, The Killer, Tea For Two, Rocking, Cool Breeze, Dock Of The Bay. Em certos momentos tive cinco canções no Top Ten.
A única vedeta de todo esse período fui eu. Dennis Brown era o único que me poderia acompanhar. Mas toda essa glória e todos esses simpáticos produtores não me trouxeram um tostão. Houve discos que me celebrizaram na Inglaterra, onde nunca estive. Mas não lutei pelo dinheiro (inspira por entre os dentes, mostrando um semblante zangado). Esses produtores não se fingem de ladrões, são ladrões! Violam-nos e roubam-nos. Não há nenhum que se aproveite.
O resultado são pessoas como eu, que acabam por produzir os seus próprios discos. Eu consigo fazê-lo porque tenho impacto junto do público. Compreende? Cada concerto que Big Youth dá – Blood Clot! Big Youth tem os seus fiéis. (Extraído do livro Reggae Bloodlines, de Stephen Davis & Peter Simon, publicado nos EUA em 1977)
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