sábado, 10 de outubro de 2009

RETRATOS DA BABILONIA 1
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Um solo fértil é um solo vivo que contém bilhões de organismos vivos em cada centímetro cúbico. É um complexo ecossistema em que as substâncias que são essenciais à vida passam em ciclos, das plantas para os animais, depois para as bactérias do solo e novamente para as plantas. Carbono e nitrogênio são dois elementos químicos básicos que passam por esses ciclos ecológicos, além de muitos outros nutrientes químicos e minerais. A energia solar é o combustível natural que aciona os ciclos do solo, e organismos vivos de todos os tamanhos são necessários para sustentar o sistema todo e mantê-lo em equilíbrio. Assim, as bactérias executam várias transformações químicas, como o processo de fixação do nitrogênio, que torna os nutrientes acessíveis às plantas; as ervas daninhas de raízes profundas levam minerais residuais à superfície do solo, onde as culturas podem fazer uso deles; as minhocas revolvem o solo e afrouxam sua textura; todas essas atividades são interdependentes e combinam-se harmoniosamente para fornecer o alimento que sustenta toda a vida na terra.
A natureza básica do solo vivo requer uma agricultura que, em primeiro lugar e acima de tudo, preserve a integridade dos grandes ciclos ecológicos. Esse principio estava consubstanciado nos métodos tradicionais de lavoura, os quais se baseavam num profundo respeito pela vida. Os agricultores costumavam desenvolver diferentes culturas a cada ano, alternando-as de modo que o equilíbrio do solo fosse preservado. Não eram necessários pesticidas, uma vez que os insetos atraídos para uma cultura desapareciam com a seguinte. Em vez de usarem fertilizantes químicos, os agricultores enriqueciam seus campos com estrume, devolvendo assim matéria orgânica ao solo para restabelecer o ciclo biológico.
Essa antiqüíssima prática de lavoura ecológica mudou drasticamente há cerca de algumas décadas, quando os agricultores passaram dos produtos orgânicos para os sintéticos, que abriram vastos mercados para as companhias petroquímicas. Enquanto as companhias farmacêuticas manipulavam os médicos para receitar cada vez mais medicamentos, as companhias petroquímicas manipulavam os agricultores para que usassem cada vez mais produtos químicos. A indústria farmacêutica e a indústria petroquímica passaram a render muitos bilhões de dólares. Para os agricultores, o efeito imediato dos novos métodos de lavoura foi um aumento espetacular da produção agrícola, e a nova era da lavoura química foi saudada como a Revolução Verde. Contudo, o lado sombrio da nova tecnologia não tardou em evidenciar-se e, hoje, está provado que a Revolução Verde não ajudou os agricultores, nem a terra, nem os milhões de famintos do mundo inteiro. Os únicos que lucraram com isso foram as grandes companhias petroquímicas. (...)
(...) Os efeitos a longo prazo da excessiva “quimioterapia” na agricultura provaram ser desastrosos para a saúde do solo e das pessoas, para as nossas relações sociais e para todo o ecossistema do planeta. Quando as mesmas culturas são plantadas e fertilizadas sinteticamente ano após ano, o equilíbrio do solo é perturbado. A quantidade de matéria orgânica diminui e, com ela, a capacidade do solo para reter a umidade. (...)
(...) O uso maciço de fertilizantes químicos afetou seriamente o processo natural de fixação do nitrogênio ao danificar as bactérias do solo envolvidas nesse processo. Por conseqüência, as culturas estão perdendo sua capacidade de absorver os nutrientes do solo e ficando cada vez mais viciadas em produtos químicos sintéticos. (...)
(...) O desequilíbrio ecológico causado pela monocultura e pelo uso excessivo de fertilizantes químicos resulta inevitavelmente em enorme recrudescimento de pragas e doenças, que os agricultores contra-atacam pulverizando as áreas plantadas com doses cada vez maiores de pesticidas; combatem, assim, os efeitos do abuso de produtos químicos pelo uso de mais produtos químicos. Entretanto, os pesticidas geralmente não conseguem destruir as pragas, porque estas tendem a se tornar imunes a esses produtos. Depois da II Guerra Mundial, quando começou o uso maciço de pesticidas, as perdas de safras causadas por insetos não diminuíram; pelo contrário, quase dobraram. Além disso, muitas culturas são agora atacadas por novos insetos que nunca haviam sido considerados pragas anteriormente, pragas essas que estão ficando cada vez mais resistentes a todos os inseticidas. (...)
(...) Se a Revolução Verde teve conseqüências desastrosas para o bem-estar dos agricultores e a saúde do solo, os riscos para a saúde humana não foram menos graves. O uso excessivo de fertilizantes e pesticidas fez com que grandes quantidades de agrotóxicos se infiltrassem no solo, contaminando o lençol de água e penetrando nos alimentos. Talvez metade dos pesticidas existentes no mercado contenham derivados da destilação do petróleo que podem destruir o sistema imunológico natural do corpo. Outros contêm substâncias especificamente relacionadas com o câncer. Entretanto, esses resultados alarmantes em nada afetaram a venda e o uso de fertilizantes e pesticidas. Alguns dos produtos químicos mais perigosos foram proibidos por lei nos Estados Unidos, mas as companhias petrolíferas continuam a vendê-los no Terceiro Mundo, onde a legislação é menos rigorosa, como ocorre com as companhias farmacêuticas, que aí vendem livremente medicamentos nocivos. (Fonte: O Ponto de Mutação, de Fritjof Capra)

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