domingo, 19 de outubro de 2008

REGGAE, MÚSICA E CULTURA DA JAMAICA - 1ª Parte


Bob Marley & The Wailers

“Bob Marley nasceu em 1954, em St. Ann, uma paróquia rural, num lugar tão pequeno que nem sequer vem no mapa chamado Rhoden Hall. Sua mãe era natural de lá e o seu pai era um major do exército inglês que estava a aproveitar a reforma para viver à colonial. Marley afirma que só o viu uma ou duas vezes, o que não é de espantar na Jamaica onde, recordação dos tempos coloniais, as crianças são freqüentemente educadas pelas mães. Marley freqüentou a escola de St. Ann até aos 14 anos e depois abandonou a sua aldeia, indo viver para Kingston. Quando se lhe pergunta o que fez de seguida, ele responde que foi “welder” (soldador) mas não se sabe se ele está a falar a sério, já que ele ri e porque o ser soldador é uma resposta-tipo dos músicos do reggae quando se lhes pergunta a sua atividade anterior. No vocabulário muito próprio do reggae, “welding” significa o sexo.
Em Trench Town, o adolescente Marley viveu na casa do pai de Bunny Livingston, um seu amigo. Ele ouvia bastante o seu transistor, captando New Orleans quando os ventos eram favoráveis. O seu cantor favorito era Brook Benton e no dia em que convenceu alguém a deixá-lo gravar algumas canções, a primeira que escolheu foi One Cup Of Coffee, de Benton. Terror e Judge Not, são dois outros singles gravados nessa época.
Em 1964, Marley sofre a influência de dois músicos mais velhos que ele: Joe Higgs era um cantor-arranjador conhecido que ensinou a Marley os rudimentos dos arranjos vocais e a arte de ser uma pessoa calma. Alvin Seeco Patterson era um percussionista Rasta que iniciou Marley no tempo e no ritmo. Nesta época, Marley tornou-se discípulo de Mortimer Planner, um Rasta venerado, que era como que o bispo das comunidades Rastas de Kingston e arredores. Diz-se nos círculos Rastas que Planner encontrou Marley em Trench Town e reconhecendo que ele possuía a Visão, ajudou-o a ir viver para fora do ghetto.


Joe Higgs, Alvin Seeco Patterson e Mortimer Planner
Em 1965, Marley ouviu os Drifters e achou que o seu som lhe convinha perfeitamente. Recrutou Bunny Livingston assim como um outro cantor/guitarrista, Peter MacIntosh, um jovem alto e magro, que nem Marley nem Livingston conheciam, mas que tinham visto cantar nas ruas, arranhando uma guitarra. Formaram o grupo em finais de 1964, juntamente com um cantor solista, Junior Braithwaite e mais duas vocalistas femininas. Chamaram-se de início The Wailing Rude Boys e de seguida The Wailing Wailers. Um ano mais tarde, Braithwaite partiu em busca de fortuna para Chicago e Marley tornou-se o vocalista principal. Em 1966, as duas vocalistas saíram e o trio Marley, Tosh e Bunny gravou inúmeros singles para Clement Dodd, um disc-jockey/produtor, mais conhecido pelo nome de Sir Coxone. Utilizando as técnicas de harmonia vocal aprendidas com Joe Higgs, Marley era ao mesmo tempo, autor, compositor e vocalista. Bunny ocupava-se das harmonias agudas e Tosh das graves. O ano de 1966 marca o apogeu dos Rude Boys e além de alguns clássicos como Simmer Down e Put It On, os Wailers gravaram Rule Them Rudies, Rude Boy, I’m Still Waiting e ainda o hino definitivo dos Rudies: Steppin Razors. Hoje Marley afirma ter recebido apenas 60 libras por todos esses discos que foram, nesse ano, pequenos sucessos em Kingston e arredores.

Junior Braithwaite e capa do disco dos Wailing Wailers
Em 1967, sem dinheiro, decidiu juntar-se à sua mãe que entretanto havia emigrado para os Estados Unidos (Wilmington, Delaware). Aí, Marley trabalhou num turno da noite da fábrica Chrysler, sem deixar, contudo, de escrever canções. Um pouco mais tarde, regressou a Kingston e reformou o grupo para gravar a primeira versão do magnífico Bend Down Low e depois Nice Time, ainda para Clement Dodd. Desta vez, Marley diz que os músicos não receberam sequer um cêntimo. Uma capa dum disco desta época Mostra Marley, Bunny e Peter Tosh posando desajeitadamente, com fatos pretos, gravatas estreitas e escuras e de cabelo quase rapado. Todas estas gravações se fizeram em Kingston, à exceção de Reggae on Broadway (canção incluída no controverso álbum póstumo, Chances Are), feita numa sessão perdida em Londres.
Em 1968, Marley juntou-se aos irmãos Barret. Carly Barret, o baterista, e Aston “Family Man” Barret, o guitarrista baixo, formavam a base fixa dos Upsetters, o grupo de estúdio do produtor Lee Perry. Os dois irmãos tinham também seu próprio grupo, que se chamava Hippy Boys. É “Family Man” quem o diz: “Os Wailers eram o melhor grupo vocal da Jamaica. E então perguntamo-nos: Porque não juntarmo-nos e pôr toda a gente de joelhos?”


Carly Barret, Aston "Family Man" Barret e Lee Perry
Com os irmãos Barret, indiscutivelmente a melhor seção rítmica do reggae, os novos Wailers começaram a ganhar forma. Marley tocava guitarra ritmo, compunha e cantava; Tosh fazia os solos de guitarra; Bunny fazia as harmonias e a percussão. Em companhia de Lee Perry, os Wailers gravaram as que muitos consideram como as suas melhores canções e Bob Marley começou a beneficiar duma atenção particular como poeta de grande paixão e duma força inquietante. Marley tinha a particularidade de encaixar textos de revolta, altivos e mágicos, em melodias doces e cantáveis. Tal é o caso da velha canção dos Wailers, Trench Town Rock, que celebra um violento motim ocorrido em 1967, em Kingston. Um dos seus temas favoritos eram as crianças esfomeadas e mães chorando. O sublime Small Axe era uma advertência ao mundo colonial:

Se vocês são uma grande árvore
Nós somos um pequeno machado
Afiado para vos abater.

Mas Marley não era o único compositor dos Wailers. A sua obsessão pela crueldade da escravatura era partilhada por Peter Tosh, que escreveu o texto cheio de sofrimento de 400 Years assim como o de Stand Up For Your Rights, que logo se tornou no grito de guerra dos Wailers. Em 1970, os Wailers apareceram, em fotos para a sua companhia discográfica, disfarçados de franco-atiradores emboscados numa ruela, usando boinas do Black Power e pistolas, metralhadoras e revólveres de brinquedo."
(Texto extraído do livro "Reggae, música e cultura da Jamaica", de Stephen Davis e Peter Simon, Editora Centelha, Portugal, edição de 1983. Aos poucos vou postando a continuação deste texto e outros capítulos.)
Baixe para ouvir as músicas (que estão de amarelo no texto) acessando: os links:

2 comentários:

Anônimo disse...

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JAHMAN disse...

Onde está escrito Joe Higg,é o filho dele Paul Higgs,não é o mestre..